No abismo da perfeição intangível, Da obsessão pela singularidade, Da personalização estandardizada do eu, Vivemos nós, egoístas e humanos. Roçam o nosso olhar, os males do mundo. Presos à sua própria realidade, Não transpõem a cúpula vítrea que nos protege. Vivemos nós, impávidos e serenos. No vício da constante renovação, Na angústia do conhecido, Na ânsia irrespirável da novidade, Vivemos nós, sem passado e sem significado. No nosso espaço e no nosso tempo, Com os nossos objectos e os nossos preconceitos, No nosso núcleo de distrações, Vivemos nós, sozinhos e indiferentes. Numa realidade céptica, criamos as nossas relações, Agoniamos o juízo de pessoas anónimas, Ignoramos a respiração quente de quem suplica. Vivemos nós, numa ilusão de companhia. Possuídos pela frenética ocupação, Desviamo-nos do nosso sentido, Andamos em círculos de colisões. Vivemos nós, e não vivemos. ...