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A mostrar mensagens de maio, 2020

PARTO

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Uma vez expelida, esta voz, Que frenética em mim se alojou, Parasita do meu pensar, Suga-me o meu cerne. Atordoada, já não giro em torno de nada. Sou dispersa, sou bocados de mim. Arrancados pela sua força sobre-humana. Que insiste em ser hospedeiro em dias soalheiros, em dias negros. Meus olhos vêem paisagens ondulantes, Que me fazem perder o equilíbrio. Esgotada de mim própria, Exposta pela materialização da minha essência. Escorre meu suor pela minha pele, fria. Minha boca balbucia réstias do que escrevi. Minhas mãos tremem, E num arrepio, desfalece num último suspiro. Num respirar nauseante, Volto ao solo que abandonei. Como se mudasse a sensação de tempo, Perco-me nesse limbo sufocante. Meu corpo jaz ao som de uma marcha fúnebre, Minha mente não resiste mais. Rendo-me, fico sem voz, Pálida, esvaio-me em paz. Como que possuída, regresso

CORPO

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Sem norte, vagueio pelo arvoredo, Onde o nada é tudo, Onde eu sou negação física, E meu ser me transpõe. Sigo neste enredo utópico, Em que nada é palpável, Em que tudo é quimérico. Sigo bucólica. Sou vagabunda do pensamento, Que efervesce em sentimento, Que se arrebata perante a beleza bárbara, Perante a miséria pulcra. Seja esta a condição mais pura do ser, Que nos faça exaltar, autónomos da subordinação ao mundo. De sentidos apurados, de visão cristalina, Pela independência, parte de carne da liberdade. Deixo-me fustigar pela rugosidade, Arrasto-me despida para que sinta a dor. Que esta me dê humanidade, Me cure a cegueira civilizada. Essência orientadora ph: Tatiana Delgado

ENCANTO

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Há um campo. Donde brotam as flores mais belas, Donde desabrocham as mais puras melodias. E onde eu sou só sentidos. Sigo-te. Encontro-te quando o meu corpo levita, Quando da minha boca entreaberta, Se liberta um pedaço da minha alma. Envolve-me com o teu sopro, Quero-me dançando ao sabor da tua respiração. Aperta-me contra a terra escaldante, Faz de mim uma voz do teu canto. Trilhos de vida

INTEIRA

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Estende-se o azul do céu Sobre a cidade em repouso. Quase se adivinham as estrelas, Quase se avizinha a lua. Abraça os sorrisos soturnos, Abarca os abraços longíquos, Polvilha-os com poeira de esperança, Adormece-os num colo sagrado. Todos estes gestos ao som de um canto divino, Que nos fez acordar desta insónia, Apática, mecânica, macilenta. E nos juntou numa dança mais humana. Voltamos todos a beber do seio familiar, A viver uns nos outros, os sonhos. Saciemos esta vontade que foi a apagada, Dancemos com a saudade, Encontremo-nos no sossego, Aprofundemo-nos, sem que nos afundemos No apetite do conhecimento, Expectante no fim do fio do pŕoximo suspiro. Estendamos também um céu, Sobre o mundo inquieto e estarrecido, Neste ensejo para redescobrir A saudade e o desejo de reflorescer. Pãn , «todo» +dẽmos , «povo» +-ia Para consultarem mais formas de arte, aced