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A mostrar mensagens de março, 2020

ENCANTO

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Para além deste mundo, Um outro mundo respira, Onde tranquilamente, Um sol desponta. Por entre folhas verdes, Por entre correntes d’ água, Bebendo gotas de orvalho, Azul esverdeada. Hipocampos de espuma de mar. Centauros bárbaros ou corteses, Grifos, justos e doutos, Harpias, mulheres de rapina. Ninfas da luxúria e da brandura, Moiras tétricas, senhoras do fado, Pégaso, filho bastardo e imortal, Fénix de lágrimas cinzentas. Tudo isto existe, Numa tela de deslumbre. E nós assistimos, imóveis, Relegados, pequeninos. Blagoy, Fairy tale, sonata para piano 1o and.

ENCANTO

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       Dançam as folhas das árvores ao sabor do sopro dos céus, pausado e constante. Os tons verdes e castanhos imiscuem-se numa mancha de cores secas e tranquilas emitindo um canto refrescante. E estamos nós neste quadro, pequenos apontamentos humanos caminhando por entre pétalas e raízes.        Estou a olhar-te, sim. Como as palavras vêm à tona e explodem em forma de gota nos meus lábios. Crio uma nova linguagem, de silêncio, de intensidade, de verdade. Estou a ver-te. Reduzo-me a um corpo, inerte, absorvido em si mesmo pelos teus gestos. Se soubesses tudo o que penso, em forma de chuvas torrenciais, que humedecem meus olhos. Fico, só assim. Mal ouço meu respirar. Raíz

OCA

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Imagens. Frenéticas. Estímulos. Impulsos. Nós, seres inteligentes, racionais, dizem. Inventamos autómatos que nos domesticaram. De olhos fixos, em êxtase, Bebemos todo o colorido e ruído. Em catadupa, cuspidas solicitações virtuais. Urgem em atafulhar meus sentidos. Uivam! Mais reais que as que me tocam. Por serem sempre novas, entusiasmantes. Rápidas. Vidas que não as nossas. Mas tão forçosamente semelhantes. Como uma música cuja letra nos toca. Porque a todos toca, de igual modo. Aparências que esvoaçam. E que como ondas, esbatem-se contra o rochedo, Do carácter, da personalidade. Gasta da mudança física. Socialmente insaciável. Ilusória. Matéria morta, Onde depositamos tanta alma. Onde recai nosso primeiro olhar. Não é na voz. Não é no espelho da alma. É no corpo. É no palpável. Que se esvai por entre as palavras, Que morre com o tempo. É nessa excitação que nos roçamos. Naquilo que se perde. Por isso somos tão inseguros. Porque amamos o que sab

PARTO

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Escrevo para expelir do meu âmago, A loucura artística. Os olhos cegos para o mundo, A mente lúcida na incansável percepção do ser. Que a contemplação desmedida, De gestos involuntários e de gritos cortantes, Nesta civilização fingida, Se materialize nesta folha de papel. Quanto mais entro em mim, Mais livre sou, mais regurgito. Sinto palpitar, dorida, a minha cabeça. Minha inspiração febril faz-me transbordar. Gelada. Em momentos insanos. Sou fora deste mundo, Sou um mundo em mim. De essência! De sentido! Consigo desmaterializar-me em pó de estrelas, No começo de tudo. Na ânsia do saber, da procura da verdade. Que formigueiro é este que me percorre? Que me faz arranhar meu corpo. Até sangrar. Até fazer minha alma quente escorrer pelo meu peito. Sorvo-me e impludo, Numa emoção frenética, Numa criatividade convulsiva. Epiléptica! Arranco-me de mim, Compulsivamente. Escrevo para que eu possa existir, Enquanto ser, único. Que a arte expatrie a t

PARTO

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Se findam minhas palavras Sob o encanto dos teus gestos Se espraiam e se espalham Pelo chão sujo num estrondo delicioso Jazem imóveis Por entre as pedras duras e frias Sem que toquem na imundície, Permanecendo belas e puras Como dantes na minha boca Que teimava não abrir Para te dizer o que já não sei como se diz Como que sempre devesse ser dito, Sem o saber.