FRAGMENTOS

Sob um céu azul, Hoje sou pó. Veem-se as estrelas, E eu sou nada. Não sou já ninguém. Não tenho mais uso. Perdeu-se-me a garra, E a voz já está gasta. A brisa já só arrepia, O sol já não queima, E eu não me deleito No calor da paisagem. Só me sinto. Pó. Não há nada que me junte. Soprem-me fora de mim. Deixem-me deixar de ser. Não sou já ninguém. Talvez não terei nunca sido. Só uma sombra esbatida Pela luz de outrém. Que fique na penumbra. Sob o manto azul marinho. Onde a sombra se alimenta Mas não se distingue. Deixem-me ser eterno silêncio. Sem histórias para contar. Contemplativo apenas, De Vós, seres de um outro mundo. Que afinal, são apenas deste. Amarrados às suas mordaças, Mais partidos do que eu, pó. Mais felizes na sua inocência. Em pó Fotografia de Tatiana Delgado