PARTO

Quantas palavras estiveram em mim aprisionadas,
Acorrentadas ao meu ser melancólico.
Perdidas no tempo das minhas vivências,
Sem destino, embatendo umas nas outras,
Amolgando meu corpo por dentro.

Parece que vejo nódoas escuras na minha pele,
Será a cor da angústia fazendo daquela seu espelho.
Nós rígidos e depressivos tentam rasgar-me as costas.
Mas que dolorosa forma tomam sentimentos duros,
Que se arrastam comigo pela vida.

Sinto dores que não tenho, não sei donde nascem.
A emoção deu-as à luz e minha vida está mais escura que nunca.
Acorrentada a mim mesma, sou espectadora.
Passiva. Passam por mim histórias e só vejo seu fim.
Eu lamento.

Tudo é ruído que ecoa em sombras pesadas.
Esta visão turva provoca-me náuseas,
Reduzindo-me a mim própria.
Sem janelas para o mundo lá fora,
Não tão grande como este meu.

Enrolada por tão intensa amargura,
Perdi a força para tornar material tamanha aberração.
Palavras pareciam-me estranhas, sem sentido, tontas,
Cuja existência ridicularizaria tamanho sentimento.

Esfomeado por um corpo submisso e débil.
Por isso o mantive em clausura.
Vestido com as mais belas metáforas,
Para que não fira susceptibilidades de quem pensa que o sentiu.
Silenciada pelo seu tamanho,
Consolada nos seus braços sem fundo.

Como que uma miragem, vejo-o caminhando,
Pelo deserto seco e quente.
Meus pés tocam a cor da água e, no meu reflexo,
Ainda o vejo. Submerso, amordaçado pela minha liberdade.
Olha-me duramente, manifestando-se de quando em vez,

Em forma de lágrima.

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