CARTA III
Esta carta não tem palavras. É feita do sono solto e dos sonhos presos. Foi escrita com as migalhas da primeira ceia, dos segredos que sobejaram, e dos olhares afiados. Esta carta não tem fim. Não vale mais que o testemunho de um corpo murcho. Dormidor do relento, e mesmo quando coberto de tecto se fez ir ao fundo do colchão, manchado. Do sangue da fria relutância ao vício. Não passa de um lamento às fontes estiadas, que já nasceu vão e nunca chegou. É um choro de versos enxutos e refrães esfaimados e eu já nem sou de carne. Não é nada afinal. É uma carta mais vaza que a maré, em tom de canção de despedida, e nem nas cores do búzio me faço ouvir. Estou já nos grãos que se fizeram pó. Estou já nas cores do céu que se pôs. Estou também nas varandas sem sardinheiras e estou por detrás das estrelas. Só que não me vejo. Só de fora para dentro. E não me entro. De cada vez que me saio, menos me adentro. Sou-me mais estranha do que entranha. Menos me fico. Os o