Quantas palavras estiveram em mim aprisionadas, Acorrentadas ao meu ser melancólico. Perdidas no tempo das minhas vivências, Sem destino, embatendo umas nas outras, Amolgando meu corpo por dentro. Parece que vejo nódoas escuras na minha pele, Será a cor da angústia fazendo daquela seu espelho. Nós rígidos e depressivos tentam rasgar-me as costas. Mas que dolorosa forma tomam sentimentos duros, Que se arrastam comigo pela vida. Sinto dores que não tenho, não sei donde nascem. A emoção deu-as à luz e minha vida está mais escura que nunca. Acorrentada a mim mesma, sou espectadora. Passiva. Passam por mim histórias e só vejo seu fim. Eu lamento. Tudo é ruído que ecoa em sombras pesadas. Esta visão turva provoca-me náuseas, Reduzindo-me a mim própria. Sem janelas para o mundo lá fora, Não tão grande como este meu. Enrolada por tão intensa amargura, Perdi a força para tornar material tamanha aberração. Palavras pareciam-me estranhas, sem sentido, tontas, Cuja exi
Sob um céu azul, Hoje sou pó. Veem-se as estrelas, E eu sou nada. Não sou já ninguém. Não tenho mais uso. Perdeu-se-me a garra, E a voz já está gasta. A brisa já só arrepia, O sol já não queima, E eu não me deleito No calor da paisagem. Só me sinto. Pó. Não há nada que me junte. Soprem-me fora de mim. Deixem-me deixar de ser. Não sou já ninguém. Talvez não terei nunca sido. Só uma sombra esbatida Pela luz de outrém. Que fique na penumbra. Sob o manto azul marinho. Onde a sombra se alimenta Mas não se distingue. Deixem-me ser eterno silêncio. Sem histórias para contar. Contemplativo apenas, De Vós, seres de um outro mundo. Que afinal, são apenas deste. Amarrados às suas mordaças, Mais partidos do que eu, pó. Mais felizes na sua inocência. Em pó Fotografia de Tatiana Delgado
Verto o viver para um copo, de plástico. Um líquido espesso e escuro ondula, Seguindo a pulsação do meu respirar. Deixa um rasto de sentidos pensados, Em forma de sedimento de matéria, Em descanso, outrora límpida. Com um sopro, embacio suas paredes. Artificiais, manchadas com a orgânica, Própria do ser vivido. Que apenas goteja. Que não queima ou congela. Que não fere os braços desnaturais. Que a envolve, que a aperta. Que a estrangula. Roxa numa agonia. Que desmaia. Só olhando para cima vejo a luz, Vejo-me a mim própria, Curvada perante o copo. Esvaziada para a realidade, dissimulada. Fabricada e seca de paixões. E eu, sorrio. Atónita.
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