Verto o viver para um copo, de plástico. Um líquido espesso e escuro ondula, Seguindo a pulsação do meu respirar. Deixa um rasto de sentidos pensados, Em forma de sedimento de matéria, Em descanso, outrora límpida. Com um sopro, embacio suas paredes. Artificiais, manchadas com a orgânica, Própria do ser vivido. Que apenas goteja. Que não queima ou congela. Que não fere os braços desnaturais. Que a envolve, que a aperta. Que a estrangula. Roxa numa agonia. Que desmaia. Só olhando para cima vejo a luz, Vejo-me a mim própria, Curvada perante o copo. Esvaziada para a realidade, dissimulada. Fabricada e seca de paixões. E eu, sorrio. Atónita.
Sinto-me o vínculo, Entre divindades celestes, E sua Terra esquecida. Sou o ser desadormecido, E que pacientemente aguarda Suas coléricas vontades. De mim usufruem, Deste meio coxo e frouxo, Submisso aos seus caprichos. Nutrem-se de minhas energias, Que me escoam pelos dedos, E que pintam esta poesia. Com tintas de cor do mundo.
A demência é mãe da obra de arte. Na revolta imensa, Numa dor intensa, É a mulher que a pariu. Salpica com sangue a tela da alma, Conspurca a matéria que a acomete e acorrenta neste mundo, Injuria os cegos e os indolentes, Vocifera desde as entranhas e ganha vida. O meu corpo está desfeito, É vontade, é o meu ser. É abstracção, é liberdade. Sou força incorpórea e soberana. Transpiro o desejo, A volúpia dos meus pensamentos, Cuspo o pecado, A lascívia dos meus sentimentos. Esculpo na rude matéria da vida, Aquilo que sou. Em momentos de loucura. Em momentos de lucidez Arte
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