OCA
Verto o viver para um copo, de plástico. Um líquido espesso e escuro ondula, Seguindo a pulsação do meu respirar. Deixa um rasto de sentidos pensados, Em forma de sedimento de matéria, Em descanso, outrora límpida. Com um sopro, embacio suas paredes. Artificiais, manchadas com a orgânica, Própria do ser vivido. Que apenas goteja. Que não queima ou congela. Que não fere os braços desnaturais. Que a envolve, que a aperta. Que a estrangula. Roxa numa agonia. Que desmaia. Só olhando para cima vejo a luz, Vejo-me a mim própria, Curvada perante o copo. Esvaziada para a realidade, dissimulada. Fabricada e seca de paixões. E eu, sorrio. Atónita.
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